Título: Final Fantasy Crystal Chronicles Ring of Fates
Plataforma:
Nintendo DS
Ultimos Jogos Lançados em:
Game Cube
Desenvolvedora: Square Enix
Distribuidora: Square Enix
Review Retirado do Site
www.gametv.com.br Aventureiros pequenos e atrapalhados
21/03/2008 - por Fernando Mucioli
O Crystal Chronicles original era uma espécie de “Final Fantasy Light” para o GameCube. Nele até quatro jogadores podiam se aventurar escolhendo raças, classes e habilidades, cortando e explodindo tudo que encontrassem pela frente com a maior facilidade....contanto que houvessem GBAs carregados para cada participante, fora o console principal. Essas e outras dificuldades impediram que o game alcançasse o sucesso merecido, e era de se imaginar que uma vez simplificado o sistema, o sucesso viria como mágica. Mas na prática as coisas não são tão fabulosas.
Ring of Fates é o primeiro Crystal Chronicles lançado desde o original, e traz o mesmo espírito e simpatia que conquistou seus fãs anos atrás. Todos os cenários e personagens são coloridos e vibrantes, o combate é simples e divertido e cada cenário oferece vários lugares para explorar e tesouros escondidos para encontrar. No DS, a ação em tempo real continua fazendo com que ele se pareça mais um Mana do que um Final Fantasy – e isso é bom. O problema é que, se por um lado os problemas antigos foram resolvidos, agora a própria insistência de usar o portátil da Nintendo ao máximo impede a lenda de virar realidade.
O game conta a história de Yuri e Chelinka, irmãos gêmeos que sob a tutela do generoso pai Latov viviam em paz em uma pequena vila no interior do reino. A vida pacata e feliz dessa família é interrompida bruscamente quando um misterioso agente do Templo do Cristal, autoridade religiosa desse mundo, se dá conta dos misteriosos poderes da menina e tenta tomá-los à força. Não vamos estragar a surpresa e contar o que acontece nesse encontro – mas a vida dessas crianças muda para sempre, e a busca por superação e seus laços de família e amizade fazem com que elas viagem até os confins do mundo. Se em outras circunstâncias esse cenário pareceria clichê, a idade dos personagens e a pureza das situações resulta numa história verdadeiramente tocante, um fato raro para os padrões atuais.
Como dito, aqui tudo funciona como no Crystal Chronicles original (ou um Mana). No comando de Yuri e seus companheiros, cabe a você explorar com os próprios pés (ou dedos) todos os cenários, pulando em plataformas, empurrando caixas, abrindo os baús e enfrentando todo tipo de monstro – desde pequenos esquilos fofinhos até aberrações mecânicas que fariam Godzilla ter inveja. Felizmente, derrotar as forças do mal é mais fácil do que parece: apertar repetidamente o botão A resulta em devastadores ataques e combos, e é essencialmente isso o necessário para superar grande parte dos desafios. Os mais corajosos ainda podem usar o botão Y para erguer inimigos pequenos e arremessá-los longe ou batê-los contra parede para mostrar quem é que manda.
A magia, por sua vez, é um caso a parte. Aqui nada de escolher comandos: você deve primeiro escolher uma Magicite – pedras mágicas elementais – da sua preferência e equipá-la, depois segurar o botão X para mirar e só depois ver o alvo voando pelos ares. Cada raça (os humanos Clevats, diminutos Liltys, místicos Yukes e ágeis Selkies) ainda possui habilidades especiais que podem tanto causar dano massivo ou revelar novos caminhos. Todos esses sistemas são incrivelmente simples, e apesar de Ring of Fates não ser nenhum Kingdom Hearts em termos de controle e resposta, não dá para colocar a culpa neles por um combate de resultado desastroso.
Para facilitar um pouco o trabalho dos pequenos heróis, o game ainda facilita bastante o acúmulo de itens e equipamentos. No FFCC original, o “estoque” era zerado a cada fase, e era necessário captar Magicites e itens desde o início. Já aqui tudo é acumulado, e sempre é possível passar na cidade mais próxima para se abastecer. Além dos equipamentos comuns, também é possível usar matérias-primas deixadas pelos monstros e combiná-las para criar armas e armaduras ainda mais potentes. Obviamente, as “receitas” para os artefatos mais raros são bem mais difíceis de se conseguir.
Mas se o multiplayer era o espírito de Crystal Chronicles em suas origens, isso ainda é verdade no novo jogo – e é aí que as coisas começam afundar. Em paralelo à história de Yuri e Chelinka, você ainda pode reunir até quatro companheiros online para desbravar o novo Final Fantasy, sem história, apenas uma cidade principal e sucessivos calabouços cheios de tesouros no melhor estilo Diablo. Enquanto cada um se encarrega de um herói tudo funciona em perfeita harmonia, e coordenar as estratégias ao vivo entre amigos é especialmente emocionante. Mas no momento em que essa mecânica invade o modo de um jogador é que começa o desastre.
Em determinado momento da aventura um ou mais personagens se unirão ao seu grupo e combaterão ao seu lado. Mas ao invés “controlados”, seria mais correto dizer que eles são “abandonados” pelo computador: enquanto você se mata para garantir a sobrevivência do grupo, eles se limitam a atacar a cada dez segundos ou simplesmente ficarem parados em algum canto. Ou seja, além de se preocupar com a própria vida, ainda precisa bancar a babá.
A situação fica especialmente complicada quando você tenta usar magias de níveis maiores. Tradicionalmente para usar um Firaga, por exemplo, é necessário que três heróis mirem seus feitiços de fogo no mesmo local - os efeitos se somam e “cabum”. Isso funciona perfeitamente no multiplayer, mas tentar se coordenar com o computador é um pequeno pesadelo. Ativa-se a magia, segura o botão L para travar a mira no oponente, troca de personagem clicando na tela sensível ao toque, ativa a mesma magia e a conduz ao alvo... tudo em tempo real. Não há qualquer outra maneira de se fazer isso, e antes que você consiga terminar o processo a maioria dos inimigos já vai estar bem no seu pescoço.
Na verdade, tudo o que depende da tela inferior do DS é intrusivo e atrapalha completamente o resto da experiência. Equipar Magicites ou itens de recuperação? Só se você parar tudo o que você está fazendo (seja um passeio ou um confronto contra um dragão de 15 cabeças), puxar a caneta, tocar no lugar apropriado e rezar para que um meteoro não caia na sua cabeça.
Francamente é uma pena ver um jogo dessa qualidade perder o brilho por problemas tão banais, principalmente quando outros muito piores já foram consertados. Se pelo menos houvesse uma maneira de ignorar os comandos por toque, a (falta de) inteligência artificial dos NPCs seria algo bem mais tolerável. O modo multiplayer continua brilhante e divertido como sempre, mas a complicação exagerada da campanha solo é simplesmente desanimadora.
Para os fãs, não há erro: Ring of Fates é o mesmo Crystal Chronicles de antes, mas em miniatura. Já para os aventureiros de primeira viagem, é melhor tomar cuidado. Essa viagem é mais difícil do que parece.