Titulo: Apollo Justice Ace Attorney
Plataforma:
Nintendo DS
Lançamento: 19/02/2008
Desenvolvedora: Capcom
Distribuidora: Capcom
Review:
Retirado do Site
www.gametv.com.br A corte está em sessão
28/02/2008 - por Gabriel Morato
Não é fácil viver sob a sombra de uma lenda. Apollo Justice, o mais novo advogado da série de simulação jurídica Ace Attorney, certamente passa por essa crise - verde e sem experiência, ele começa sua carreira seguindo os passos de Phoenix Wright, amado protagonista dos três primeiros episódios da série. Mas se os fãs derem uma chance para esse jurista, o veredito final promete ser mais do que justo.
Depois de fazer sucesso no GBA, a trilogia foi portada ao DS, quando recebeu sua primeira tradução para o inglês - e logo se tornou um fenômeno cult. Mostrar evidências para provar esse caso é fácil: com diálogos sagazes, o game coloca jogadores no papel de um advogado que deve encontrar contradições nas afirmações de uma série de testemunhas apresentando provas. Claro, tudo isso é feito da maneira mais estilizada possível: Apollo bate na mesa logo depois de gritar "OBJECTION" e começar uma saraivada verbal de discussão contra os promotores no meio do tribunal. Para completar, toda a trama é deliciosamente absurda - uma jovem prestidigitadora como assistente, por exemplo - mas sempre razoavelmente verossímil. A única maneira de vencer? Virar o caso de cabeça para baixo com as evidências.
Fãs dos primeiros três episódios reconhecerão imediatamente a caneta de Shu Takumi na direção e roteiro. As situações continuam completamente malucas, e as testemunhas dificilmente poderiam ser mais caricatas. O charme certamente não mudou, e apesar de contar com uma nova equipe legal, Phoenix Wright ainda tem um papel importante - e muitas das repercussões envolvem não só o passado nos sete anos desde o explosivo final de Trials and Tribulations... mas um último caso que promete mudar até a maneira como se joga a série nos futuros episódios.
É possível que muitos seguidores soltem um sonoro "HOLD IT!" ao encarar o novo herói e seu oponente, o roqueiro mundialmente famoso Klavier Gavin. Certamente a dupla Wright e Edgeworth marcou uma era, e a relação de Justice e Gavin é completamente diferente - não ruim, não pior, não melhor... apenas uma página diferente da história. Fãs que não estiverem dispostos a aceitar essas mudanças perigam teimosamente não curtir mais uma empolgante batalha jurídica que não desaponta de maneira nenhuma.
A surpresa mais agradável é que, depois de reciclar as mesmas imagens desde 2001 e usar o chip primário de som do GBA, Apollo Justice não apenas traz fundos retocados, mas uma qualidade musical superior - além de reciclar muito menos música dos títulos anteriores (algo muito importante, especialmente em um jogo onde a trilha sonora dá quase todo o ritmo da "ação"). A tradução continua sendo de primeira linha, e dessa vez mais sutil e menos recheada de referências culturais especificamente americanas... mas ainda tão deliciosa quanto antes. São toques pequenos, mas que fazem a diferença. Além disso, Ema Skye, que apareceu no caso extra adicionado ao remake do primeiro game, retorna agora adulta - e, junto com ela, os novos quebra-cabeças de investigação científica de cena do crime e provas que podem ser investigadas em 3D. Todos esses elementos estão presentes em todos os casos.
É notável também como, principalmente nas sessões da corte, as batalhas verbais estão muito mais bem estruturadas e menos frustrantes. Ficaram no passado os raciocínios compostos e procedimentos do tipo “pressionar uma fala, mudar um texto, voltar para outra parte totalmente desconexa e pressionar de novo” que tanto atormentou Phoenix em Justice for All (e um pouco em Trials and Tribulations). Dentro da corte é tudo mais fluido e conexo, mas nem por isso fácil: o primeiro caso de Apollo Jutice é um dos mais longos da série, e pode chegar a afastar potenciais iniciantes prontos para apontar e gritar pela primeira vez.
Esse é essencialmente o único “problema” real do novo Ace Attorney: sendo já o quarto capítulo da série jurídica da Capcom (e mesmo sendo um novo início para a mesma), quem não passou pelas aventuras de Phoenix pode não aproveitar tanto. São pouquíssimas as conexões diretas com a trilogia original – seja por eventos ou personagens – mas mesmo assim simplesmente não é a mesma coisa quando é um mundo para o qual você está voltando depois de meses de espera.
Mas uma última surpresa foi adicionada ao repertório do nosso corajoso advogado: um novo sistema de detectar mentiras. Em alguns depoimentos específicos, Justice sente algo estranho em seu bracelete e pode "focar" sua visão na testemunha. Isso inicia uma seqüência em câmera lenta, na qual o jogador deve identificar um tique nervoso que entrega o perjúrio da pessoa. É uma adição pequena, e usada muito pouco durante a aventura - mas certamente é uma mecânica muito mais diferenciada e interessante do que a antiga Magatama dos dois títulos anteriores. É uma pena que isso apareça tão pouco durante os quatro casos... mas o uso sempre é bem integrado e traz alguns desafios, no mínimo, curiosos. Talvez para não sobrecarregar o jogo com sistemas muito diferentes, os Psyche-Locks das versões anteriores foram eliminados, e fazem falta até certo ponto – era sempre divertido derrubar as mentiras dos outros também fora dos tribunais.
Assim como Apollo deve manter sua mente aberta para encontrar teorias que virem um caso de cabeça para baixo, é importante que os fãs também estejam prontos para ter novidades apresentadas para eles. Esse é um empolgante novo início para essa criativa e divertida série. Se você tem total domínio do idioma inglês e uma paixão por jogos de raciocínio e boas tramas, você não vai querer perder essa sessão da corte por nada desse mundo.
Imagens: